Habituados que estávamos ao "sanbon", "nihon" e "ippon" para a marcação dos pontos em Kumite, eis que em janeiro deste ano a WKF decide modificar a nomenclatura.
Se anteriormente
sanbon
definia três pontos, nihon dois
pontos e ippon
um ponto, atualmente a terminologia correspondente é ippon (3 pontos), waza-ari (2 pontos) e yūkō (1 ponto).
Joséferson Goulart (aqui), referindo-se ao documento da FNK-P – Regras de Competição WKF, diz-nos que:
一本 Ippon - "1
ponto!". (Doc: "3 pontos" - Correto: SANBON 三本.)
技有り Waza-ari - "Houve a técnica!". (Doc: "2 pontos" - Correto NIHON 二本.)
有効 Yūkō - "Foi efetiva (a técnica)!". (Doc: "1 ponto" - Correto IPPON 一本.)
acrescentando que "seria mais coerente informar que isto é a equivalência em pontos e não uma suposta tradução".
技有り Waza-ari - "Houve a técnica!". (Doc: "2 pontos" - Correto NIHON 二本.)
有効 Yūkō - "Foi efetiva (a técnica)!". (Doc: "1 ponto" - Correto IPPON 一本.)
acrescentando que "seria mais coerente informar que isto é a equivalência em pontos e não uma suposta tradução".
Adriana Tanaka (aqui), analisando os Kanji (漢字) explica-nos os significados desses mesmos termos do seguinte modo:
Yūkō (有效): eficiente.
Waza-ari
(技あり ou 技有?): executado
com destreza.
Ippon
(一本):
único.
Saliente-se que a nomenclatura foi modificada mas o sitema de atribuição de pontos continua igual.
Assim, grosso modo, poderemos dizer que:
1 - o gesto técnico avaliado com yūkō é considerado efetivo ou eficiente sendo atribuído ao competidor que a realizou um ponto;
2 - a técnica avaliada com waza-ari foi executada com destreza e ao competidor que a executou são atribuídos dois pontos;
3 - a técnica avaliada com ippon é considerada como única, excelente, e, apesar de "ippon" significar "um ponto", são atribuídos três pontos ao competidor que a efetuou.
Não percebi porque mudaram as regras. Estão a usar a nomenclatura do judo. Não é falacioso considerar que um pontapé jodan é um gesto "mais correcto" do que um tsuki jodan ou chudan?
ResponderEliminarCara Maria Etelvina:
ResponderEliminarNão mudaram as regras... mudou a nomenclatura, sendo que a atual se traduz em pontos e não é uma tradução do termo que designa esses pontos.
O Ippon sempre foi considerado a última técnica, a decisiva - tempos houve em que até tivemos o Shobu Ippon... Na nomenclatura anterior o Ippon deixou de ter o significado de "único" pois havia o Sanbon... Logo, tratou-se de reabilitar o termo mas atribuindo 3 pontos ao competidor.
Usar a nomenclatura do Judo? Talvez... vamos mais uma vez a reboque daquilo que é mais conhecido, daquilo que tem mais visibilidade - basta lembrar que o Judo está nos J. O.! Questões de marketing? Provavelmente...
Quanto ao "mais correcto", da maneira que coloca a questão a resposta tem de ser afirmativa. Mas para haver uma avaliação em competição terá de haver parâmetros - por isso tem de se considerar o grau de dificuldade da técnica (eficiência) assim como a eficácia (resultado) da mesma. Claro que um mawashi geri jodan tem um maior grau de dificuldade que um oi-zuki chudan, mas a competição é um "jogo"... em relação à eficácia, entre uma técnica e outra há "umas coisas" que se chamam "pontos vitais"... que para a competição não interessam, mas que na realidade podem levar a que esta última técnica possa ser mais eficaz que a primeira.
Mas isto é só a minha interpretação...
Um abraço amigo!
E ainda hei-de ver o pessoal de karategi azul e branco.
ResponderEliminarQuem vai lucrar será a Sportzone e a Decathlon!
Abraço!
Pedro Correia
Falemos um pouquinho sobre IPPON e assuntos relacionado com as regras e o Jûdô.
ResponderEliminar1º - IPPON 一本 tem sido traduzido por "um ponto", mas na realidade não é exatamente isso... Como em português dizemos "um cacho de bananas" em japonês utilizam-se "contadores", sufixos que indicam o "tipo" de coisa a ser enumerada. O sufixo HON 本 é um "contador" para coisas cilíndricas e compridas e - por ser um "contador" - não tem tradução na expressão.
Este sufixo é usado para coisas como dedo(s), braço(s), lápis, banana(s), caneta(s) etc..
Por exemplos:
Ude Ippon - "Um braço"; Ippon Nukite - "Estocada com um (dedo)" «técnica de Karate»; Nakadaka ippon ken - "Soco com um (dedo) médio" «técnica de Karate».
Quando o árbitro diz IPPON 一本 está literalmente a dizer "Um!" e ergue o braço validando gestualmente a execução da técnica. Mas isto, a utilização da expressão "Um", é uma convenção e não representa a tradução literal dos ideogramas. Por isso uso a tradução entre aspas "um ponto" para indicar o sentido geral, não a tradução efetiva.
2º - Quanto aos novos termos das regras de competição serem nomenclaturas do Jûdô...
Sim! São mesmo as nomenclaturas das competições de Jûdô. Mas qual é o problema disso?
O sistema de graduação do Karate não vem do Jûdô?
O Karate-gi não vem do Jûdô-gi?
... Por que não os termos de competição?! (^_^)
3º - Quanto ao Jûdô-gi Azul, foram utilizados no Jûdô apenas para facilitar a transmissão das competições pela televisão (o Jûdô-gi vermelho já havia sido testado, mas na TV o comprimento de onda da referida cor demonstrou-se ser inadequado). Foi uma questão simples de "difusão" da arte por outros meios! (^_~)
押忍!
OSU!
Recebido via e-mail, de Joséverson Goulart, o que agradeço, publico na íntegra o seguinte conto:
ResponderEliminarUMA FAMÍLIA FELIZ.
O Sr. Budô encontrou a D. Butokukai, casaram e tiveram um filho chamado Jûdô.
Tudo corria bem para a família Dô.
Um dia apareceu à porta da família Dô um rapazinho feioso, mal vestido e, aos olhos da família Dô, um tanto mal educado.
Contudo, demonstrando o seu bom coração, o filho Jûdô pede para os pais que adotem o recém chegado.
Naturalmente, o senhor Budô fez cara feia, a senhora Butokukai lançou aquele olhar de desaprovação, mas, por insistência do filho Jûdô, resolveram acolher no seu lar aquele menino que ali havia aparecido.
-“Qual é o teu nome?” pergunta a senhora Butokukai àquele menino tão esquisito.
-“Meu nome é Tôde.” Responde o menino.
-“Mas que raio de nome é esse?” Pergunta o senhor Budô.
-“É o nome que me deram na terra onde nasci.” Responde o cabisbaixo rapazinho.
Tanto o senhor Budô quanto a senhora Butokukai aparentavam sinais de certa repulsa àquela situação invulgar.
-“Papá, mamã… Seria tão bom ter mais um membro nesta casa.” Diz o Jûdô – fazendo “olhinhos”.
Diante do pedido sentido do Jûdô, os pais decidiram aceitar o novo membro na família.
-“Em primeiro lugar…” diz a senhora Butokukai “… temos de mudar este nome! A partir de hoje vais te chamar Karate!”.
-“Em segundo lugar… estes Kimonos não lembram o diabo!” Continua a senhora Butokukai. “Jûdô, traz lá um Dô-gi e vê se o mesmo se adapta ao nosso novo membro” já torcendo o nariz.
O Jûdô como havia simpatizado com Karate desde o princìpio, cedeu gentilmente alguns Dô-gi para que a sua mãe ficasse feliz.
-“Em terceiro lugar…” agora continuava o senhor Budô “… não podes estar com o Dô-gi sem indicar o teu grau social! Precisas urgentemente de uma graduação! Jûdô, meu filho, arranja uma faixa para o Karate.”
Rapidamente, Jûdô – já com um sorriso de aprovação – traz algumas faixas e entrega ao Karate.
-“Por fim…” conclui o senhor Budô “… para pertencer a nossa casa, temos que adicionar o meu nome de família a este teu novo nome, ou seja, a partir de hoje passas a ser conhecido por Karate-dô!”
Assim, o Karate-dô passou a ter um irmão mais velho chamado Jûdô, a viver sob as mesmas diretivas estabelecidas pelo pai Budô e mãe Butokukai.
E, a partir desse dia, viveram felizes para sempre!
FIM.
A grande realidade é que mesmo que este conto, sendo uma analogia bastante estúpida, reflete o que deveria acontecer a nível de relacionamento entre estas artes marciais, ou seja, deveriam comportar-se como artes irmãs, filhas dos mesmos pais (Budô e Butokukai).
EliminarO desconhecimento efetivo da história do Karate, faz com que a maioria dos instrutores vejam o Karate e o Jûdô como artes divergentes quando na realidade, sem o apoio resoluto de Kanô Jigorô – fundador do Jûdô – o Karate possivelmente ainda estivesse restrito tão somente à ilha de Okinawa.
A recente alteração das regras de World Karate Federation, agora utilizando uma nomenclatura de competição do Jûdô, só serviu para demonstrar a falta de conhecimento sobre o desenvolvimento histórico do próprio Karate-dô no Japão por parte de um grande número de instrutores.
Naturalmente, o Karate-dô tem a sua individualidade, mas não é por um mísero punhado de termos japoneses (que geralmente nem se sabe a tradução correta) que agora se atirariam pedras no Jûdô como sendo o lobo mau da história.
Devemos, antes de sairmos a disparatar pela internet, ter a consciência da evolução histórica do Karate e adaptar a evolução do pequenote às experiências de sucesso do irmão mais velho, ao invés de inventar um “amor exacerbado” (geralmente sem qualquer fundamentação literária e um tanto extremista) a respeito do Karate.
“Eu amo o Karate [apesar de não saber quase nada a seu respeito]” é uma afirmação bastante perigosa, pois faz com que os fatos não seja observados num cenário mais amplo e explícito.
Mesmo que irmãos consanguíneos sejam – na maioria dos casos – completamente diferentes entre si (o que é verdadeiro no caso do Jûdô e do Karate), devemos admitir que o Jûdô é um irmão mais velho bem sucedido na vida, com uma base Olímpica solidamente reconhecida e com uma divulgação e maturação consistente…
O Karate-dô, como irmão mais novo, não teria muito a ganhar se seguisse as pegadas do irmão mais velho Jûdô?
Se ambas as artes já partilharam tanto em comum, qual é o problema em partilhar mais uma coisinha ou outra?
(^_^)
Joséverson Goulart
Caro Armando !
ResponderEliminarObrigado pelo post, Obrigado a todos os comentadores, em especial ao senhor Joseverson Goulart pela lição.
Grande abraço,
OSS!
Luís Sérgio
Claro que o Karaté deve muito ao Judo... ou a Jigoro Kano!
ResponderEliminarMas o Karaté ainda não é olímpico... e que pode estar por detrás disto uma mãozinha de marketing, lá isso pode!
Abraço.
JA Neves