O
desporto sempre esteve intimamente ligado a formas educativas, culturais e
formativas, o que sempre nos levou a considerá-lo uma escola de virtudes.
Sempre foi o arauto de valores, de ética e de moral… o que não significa que o tenham
sido (sejam) as pessoas nele envolvidas – pelo menos na prática, em ações, em
atitudes e comportamentos. A formação do indivíduo, a construção do seu
caráter, o desenvolvimento da sua autonomia e da sua disciplina sempre foram
dados como podendo ser adquiridos através do desporto. O que por vezes nem
sempre se reflete em comportamentos que deveriam ser exemplares.
A
FNK-P levou a cabo entre 2007 e 2009 seis ações de formação em todo o país
(Lisboa, Guarda, Santo Tirso, Beja, Funchal e Ponta Delgada) denominadas
“Ética, Desporto e Karaté”, sendo assim percursora de parte daquilo que se
pretende agora com o Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED).
Perguntava
eu, aquando do lançamento do PNED, se há valores inerentes à prática
desportiva, por que é preciso promovê-los? Se são inerentes a essa
prática, ainda há a necessidade de serem assimilados e vividos nela própria?
A
resposta é simples: parafraseando Hannah Arendt não é o Homem que milita no
desporto, são os homens que o fazem e nele participam em diferentes funções.
Logo, a resposta direta àquelas questões terá de ser positiva! Aliás, nas ações
de formação acima referidas, verificámos que durante a época desportiva de 2007/08, dos
Treinadores de Karaté participantes em cinco destas ações de formação, somente
cerca de 1,6% conhecia o Código de
Ética emanado da Federação Mundial de Karaté.
Na última ação de
formação, já em 2008/09, dos 48 participantes nenhum o conhecia.
Numa
época em que alastra no desporto a violência, o doping, a corrupção, a fraude
desportiva, a morte em competição (morte súbita e morte por acidente), a
morbilidade (lesões permanentes), a exploração infantil e o treino intensivo
precoce, algo haverá a fazer.
Num
tempo em que se verificam suicídios de desportistas, em que começam a ingerir-se
cada vez mais no desporto a política e a religião, começando até a ser visíveis
casos de racismo, de xenofobia e de terrorismo, é necessário fazer algo neste
campo para se poderem evitar e/ou modificar comportamentos perniciosos para e no
desporto.
Numa
altura em que a economia manobra o desporto, deverá este fenómeno ser
escalpelizado.
No
momento em que se pede ao desporto comportamentos exemplares quando eles mesmos
não são exigidos à sociedade há que criar um espaço de discussão, de debate
alargado, que se venha a transformar em ações concretas que reflitam essa
conjugação e confronto de ideias. Não só no desporto escolar ou nos escalões de
formação, não só no desporto amador como no profissional, não só entre
professores ou académicos e investigadores como entre treinadores, árbitros,
dirigentes, praticantes e competidores.
Qual
a nossa responsabilidade? Como diz Paul Ricouer (1), “chegamos sempre a meio de uma conversa que
já começou e à qual tentamos orientar-nos a fim de, pela nossa parte, para ela
podermos contribuir”.
Contribuiremos mais um pouco
num próximo post…
(1) Paul Ricouer, 1989, "Do Texto à Acção", Porto, Ed. Rés.
...
Sensei Armando:
ResponderEliminarUm contributo meu nesta matéria: e se os presidentes da federações, que são Embaixadores para a Ética no Desporto, nos relatassem os seus comportamentos éticos como exemplos a seguir? Podia-se fazer um workshop sobre isso... e era um bom pontapé de arranque.
Abraço e bom domingo.
Pedro Correia
Caro Armando:
ResponderEliminarSempre a tua preocupação com um desporto limpo e verdadeiro... De facto necessitamos de ética no desporto e muito tens tu pregado acerca disso. Espero que algumas das sementes que tens lançado à terra germinem. Os nossos filhos, os nossos alunos merecem isso.
Um abraço da colega
Luísa Soares
Caro Sensei Armando,
ResponderEliminarAquando do anuncio de Guimarães como a primeira cidade europeia do desporto em 2013 (têm de fazer um artigo sobre este facto, até porque o karaté está lá representado no vídeo de candidatura), ouvi o Sr. Secretário de Estado a enunciar o projeto "Plano Nacional de Ética no Desporto" para quatro anos, não ouvi contudo quais os investimentos governamentais nesta área em concreto. "De boas intenções está o inferno cheio" fica bonito falar-se de ética no desporto, assim como na política ou até na vida quotidiana dos cidadãos, mas é necessário algo em concreto mais que boas intenções.
Todos nós sabemos que o desporto quando bem ministrado é um optimo veiculo de promoção de valores éticos e morais até. Mas na verdade as políticas que vemos a ser seguidas não são da promoção do desporto nas escolas nos infantários nos centros sociais etc.
Temo que o projeto tenha sido elaborado para ir de encontro a nossa falta de recursos nos próximos anos, infelizmente para todos nós.
Abraço amigo,
Filipe Ferreira
Só intenções não chegam. São necessárias acções! Se vai haver workshops, vamos a eles! Se vai haver ações de sensibilização para diversos públicos venham elas!
ResponderEliminarA Ética e o Desporto não se compadecem com amadorismos. A Moral e a Axiologia também não. O PNED dever-se-á mostrar profissional!
Não chegará criar Códigos Éticos para os Agentes Desportivos! Terá de se criar Códigos Deontológicos para as várias profissões envolvidas no desporto, assim como "Ethics Commissions", "Ethics Commissions Guidelines" e "Ethics Commissions Procedural Rules" - só Embaixadores de cartaz não chegam.
Terão de ser amplamente divulgados exemplos de boas práticas... Sem isto, o saco estará roto.
Cumprimentos a todos.
José Brás
Caro Amigo Armando, uma vez mais estou em plena sintonia contigo.
ResponderEliminarGrande abraço!
António dos Santos
Dr. Armando:
ResponderEliminarNo papel o PNED parece bem estruturado. Pode semear algumas sementes, embora possa não curar árvores que já estão muito carcomidas. Talvez já devesse ter arrancado com mais visibilidade e iniciativas.
Aguardemos.
Abraço
JA Neves