É senso comum que o ser humano, quando
confrontado com uma situação anómala, pode assumir um de três comportamentos:
ou bloqueia e nada faz, gere essa situação de modo precipitado e negativamente
(muitas vezes fugindo ou recorrendo a uma atitude de sobrevivência), ou
encarando assertiva e positivamente a situação, domina-a, num ato que muitas
vezes é considerado posteriormente de audácia ou de coragem.
Mas aquilo que é veiculado pelo senso comum
nem sempre é que acontece. A maioria das pessoas, perante uma situação extrema
tem a tendência para se comportar de uma forma amorfa, assumindo um
comportamento de “laissez faire, laissez passer”… mas claro que há as exceções
para confirmarem a regra! A maioria das pessoas não fica estática quando
dominada pelo medo nem reage de modo hercúleo. A tendência é fingir que se
ignora e deixar passar ao lado… mostrar-se desinteressado… Sobrevive-se – mas “sobreviver naufragando é um recurso, não uma
opção.” (1)
Pensamos, sentimos e agimos. Enquanto
pensamos podemos optar. "É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar." - diria Fernando Pessoa (2). Quando sentimos (e se de
súbito!) nem sempre agimos - "agir é repousar" (2) -, mas por vezes reagimos… emocional e não racionalmente...
Este tema foi abordado por José Luís Nunes
Martins, em “Gestões de crises”, no passado dia 26 Maio, no jornal «i», pagina
13, e com a devida vénia transcrevemos o seguinte excerto:
“Há,
nas tragédias, quem gele e quem seja temerário, mas tratam-se de qualidades que
não são desencadeadas pela situação, antes traços de personalidade que se
cumprem também em circunstâncias extraordinárias.
As pessoas, como os rios, variam as suas reacções de acordo com a sua profundidade. Mas, a maior parte da sociedade é radicalmente superficial.
As pessoas, como os rios, variam as suas reacções de acordo com a sua profundidade. Mas, a maior parte da sociedade é radicalmente superficial.
O maior
risco desta não gestão de crise é ignorar os perigos e não os enfrentar.
Em muitas situações, as pessoas, alimentadas por um optimismo bacoco, até têm um sorriso nos lábios mas não deixam de morrer por causa disso.
Em muitas situações, as pessoas, alimentadas por um optimismo bacoco, até têm um sorriso nos lábios mas não deixam de morrer por causa disso.
Este
estado de apatia, estranhamente normal, impede, de facto, que se cometam erros
graves, mas também nada faz para salvar o que é importante. Parece preferir
ignorar.
Perante
uma tragédia, sentar-se e esperar que passe é, na verdade, correr de forma
clara, decisiva e fatal em direcção ao centro da desgraça.”
Mas o que tem isto a ver com a Ética no desporto? - perguntarão os leitores...
Daremos a resposta no próximo post.
(1) Miguel Real, 2012, “Nova Teoria do Mal”,
Alfragide, Publicações D. Quixote.
(2) Fernando Pessoa, 2011, "Livro do Desassossego", Lisboa, Assírio & Alvim.
(2) Fernando Pessoa, 2011, "Livro do Desassossego", Lisboa, Assírio & Alvim.
Se a situação é anómala, não vale a pena virar a cara para o lado, apesar de muitos o fazerem... uns acomodam-se... outros são subservientes... alguns querem estar bem com deus e com o diabo - com gregos e tróianos já não vale apena, porque a Grécia ainda está pior que nós....
ResponderEliminarNunes Martins tem razão quando diz que o maior risco desta não gestão de crise é ignorar os perigos e não os enfrentar. Então enfrentemo-los! Cara a cara!!!
Um abraço
JA Neves
Sobrevive-se porque as pessoas se tornam submissas. Chama-se a isso esclavagismo. Para lá caminhamos...
ResponderEliminarAbraço!
Luísa Costa