terça-feira, 29 de maio de 2012

Ética no desporto... (III)

É senso comum que o ser humano, quando confrontado com uma situação anómala, pode assumir um de três comportamentos: ou bloqueia e nada faz, gere essa situação de modo precipitado e negativamente (muitas vezes fugindo ou recorrendo a uma atitude de sobrevivência), ou encarando assertiva e positivamente a situação, domina-a, num ato que muitas vezes é considerado posteriormente de audácia ou de coragem.

Mas aquilo que é veiculado pelo senso comum nem sempre é que acontece. A maioria das pessoas, perante uma situação extrema tem a tendência para se comportar de uma forma amorfa, assumindo um comportamento de “laissez faire, laissez passer”… mas claro que há as exceções para confirmarem a regra! A maioria das pessoas não fica estática quando dominada pelo medo nem reage de modo hercúleo. A tendência é fingir que se ignora e deixar passar ao lado… mostrar-se desinteressado… Sobrevive-se – mas “sobreviver naufragando é um recurso, não uma opção.(1)

Pensamos, sentimos e agimos. Enquanto pensamos podemos optar. "É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar." - diria Fernando Pessoa (2).  Quando sentimos (e se de súbito!)  nem sempre agimos - "agir é repousar" (2) -, mas por vezes reagimos… emocional e não racionalmente...

Este tema foi abordado por José Luís Nunes Martins, em “Gestões de crises”, no passado dia 26 Maio, no jornal «i», pagina 13, e com a devida vénia transcrevemos o seguinte excerto:

Há, nas tragédias, quem gele e quem seja temerário, mas tratam-se de qualidades que não são desencadeadas pela situação, antes traços de personalidade que se cumprem também em circunstâncias extraordinárias.
As pessoas, como os rios, variam as suas reacções de acordo com a sua profundidade. Mas, a maior parte da sociedade é radicalmente superficial.
O maior risco desta não gestão de crise é ignorar os perigos e não os enfrentar.
Em muitas situações, as pessoas, alimentadas por um optimismo bacoco, até têm um sorriso nos lábios mas não deixam de morrer por causa disso.
Este estado de apatia, estranhamente normal, impede, de facto, que se cometam erros graves, mas também nada faz para salvar o que é importante. Parece preferir ignorar.
Perante uma tragédia, sentar-se e esperar que passe é, na verdade, correr de forma clara, decisiva e fatal em direcção ao centro da desgraça.

Mas o que tem isto a ver com a Ética no desporto? - perguntarão os leitores...

Daremos a resposta no próximo post.



(1) Miguel Real, 2012, “Nova Teoria do Mal”, Alfragide, Publicações D. Quixote.
(2) Fernando Pessoa, 2011, "Livro do Desassossego", Lisboa, Assírio & Alvim.

2 comentários:

  1. Se a situação é anómala, não vale a pena virar a cara para o lado, apesar de muitos o fazerem... uns acomodam-se... outros são subservientes... alguns querem estar bem com deus e com o diabo - com gregos e tróianos já não vale apena, porque a Grécia ainda está pior que nós....

    Nunes Martins tem razão quando diz que o maior risco desta não gestão de crise é ignorar os perigos e não os enfrentar. Então enfrentemo-los! Cara a cara!!!

    Um abraço
    JA Neves

    ResponderEliminar
  2. Sobrevive-se porque as pessoas se tornam submissas. Chama-se a isso esclavagismo. Para lá caminhamos...

    Abraço!
    Luísa Costa

    ResponderEliminar