terça-feira, 8 de maio de 2012

Sidónio Serpa, Guardiola e cultura


Hoje, no diário «A Bola», página 31, Sidónio Serpa escreve sobre o treinador do Barcelona e a sua evolução cultural.

E diz-nos que Guardiola "há poucos anos, já treinador do Barça afirmava que o futebol era a mais importante das coisas menos importantes, o que revela realismo inteligente, entendedor do essencial da vida que transcende o significado do desporto, mesmo enquanto profissão." Fazendo uma aproximação inevitável a Mourinho, Sidónio Serpa afirma que este, "com toda a sua conhecida competitividade, desdramatiza a importância do jogo relativamente a outros valores, como a família que lhe garante o verdadeiro equilíbrio." O que demonstra, parafraseando Manuel Sérgio, que quem só sabe de futebol nem de futebol sabe... tal como quem só sabe de Karate nem de Karate sabe... e que há outros valores para além dos valores desta própria modalidade.

Mas sobre as funções de um treinador, Sidónio Serpa vai mais longe: "um treinador de topo, como profissionais noutros domínios, para aproveitar o potencial das situações e dos colaboradores, sejam atletas ou membros do staff técnico, deve estar além do mero conhecimento específico da sua área de intervenção. Apenas uma cultura alargada permite o entendimento das coisas do mundo que se reflecte na eficácia do trabalho do terreno."

E termina de modo exemplar: "A preparação científica e técnica é factor de competência. Mas não chega! Treinadores que apenas sabem falar da sua actividade, para além de enfadonhos, não atingem patamares de real excelência. Receio que nas faculdades de desporto, por muito rigorosas e baseadas na ciência que sejam, se esteja a esquecer a dimensão cultural, abrangente e humanista que promove a curiosidade e criatividade geradora da diferença e desenvolvimento." Tal como eu receio que no complemento da formação dos atuais treinadores de Karate também se esteja a esquecer esta dimensão... Ou que a mesma seja igualmente olvidada nos próximos cursos de formação de Treinadores de Karate...
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4 comentários:

  1. Caro Armando,
    bem-hajas, por esta partilha e por este post tão oportuno e valioso. Na verdade, concordo com o que dizes, a falta de horizontes, de saber olhar para fora do Karate, que vejo em alguns treinadores de karate e de outras modalidades, preocupa-me. Por um lado, tal como muito bem diz, Sidónio Serpa :"A preparação científica e técnica é factor de competência. Mas não chega! Treinadores que apenas sabem falar da sua actividade, para além de enfadonhos, não atingem patamares de real excelência". Não atingem patamares de excelência e vivem alienados na sua acefalia sem saberem. Muitas vezes, deformam, não formam. Os desgraçados que com eles convivem aprendem a alienação e a submissão, não a pensar, nem a olhar o mundo de diferentes perspetivas. Se fosse crente, diria como o Armando : " livrai-nos senhor, dos que só sabem de karate." Nem sequer sabem que não sabem de nada. São maus comerciantes e vivem de bem com o seu comércio. A arte rendeu-se ao vil metal da sobrevivência.

    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  2. Caro Dr. Armando:

    Treinador que queira ser Treinador não pode perceber só de treino. As relações humanas e afectivas são fundamentais. Os conhecimentos de Psicologia, Pedagogia e Sociologia do Desporto igualmente. Por que motivo só se anda preocupado com a alfabetização motora e se descura o resto?

    Um abraço.
    JA Neves

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  3. "a dimensão cultural, abrangente e humanista que promove a curiosidade e criatividade geradora da diferença e desenvolvimento" é na realidade importantíssima para o treinador desempenhar as suas funções com sucesso. Olímpio Coelho dizia que muitas vezes o insucesso do treinador não residia na sua falta de conhecimentos técnicos, residia na falta de conhecimentos psicopedagógicos.

    Cumprimentos!
    José Brás

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  4. Sem dúvida que Sidónio Serpa percebe do assunto, ou não fosse Sidónio Serpa. Se os treinadores não se preocuparem com a cultura, com as relações entre as pessoas, com os sentimentos e com os afectos, então o melhoe é andarem só aos socos uns aos outros... e já estamos a ver alguns casos destes por aí!

    E ainda haveremos de ver mais!

    Abraço
    Pedro Correia

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