segunda-feira, 21 de junho de 2010

Deus é brasileiro, Cristo foi português e treinador de Karaté...

A maioria não sabe, mas Cristo foi português e treinador de Karaté. Deixou de o ser aos trinta e três anos… Saiba os motivos!!

Naquele tempo, Jesus subiu ao monte seguido pela multidão e, antes de começar a ministrar o treino, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus alunos se aproximassem. Depois, tomando a palavra, ensinou-os, dizendo:
– Em verdade vos digo, bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles...
Pedro interrompeu:
– Temos que aprender isso de cor?
André disse:
– Temos de tirar apontamentos?
Tiago perguntou:
– Vamos ser examinados sobre isso?
Filipe lamentou-se:
– Não trouxe o papiro-diário.
Bartolomeu quis saber:
– Isso é importante para eu mudar de cinto?
João levantou a mão:
– Isso aplica-se mais ao Kumite ou à Kata?
Judas exclamou:
– Para que é que serve isto tudo? Não se resolve com 30 moedas?
Tomé inquietou-se:
– Porque não há mais treino e menos palestra?
Tadeu reclamou:
– Mas porque é que não nos dás o dossier e... pronto!?
Mateus queixou-se:
– Eu não entendi nada... ninguém entendeu nada!

Um dos fariseus presentes, que nunca tinha estado diante de uma multidão, nem ensinado nada, tomou a palavra e dirigiu-se a Ele, dizendo:

– Tens Cédula de Treinador de Desporto? E onde está o teu Planeamento e Periodização da Época Desportiva? Fizeste uma planificação do treino?
– Qual é a nomenclatura do teu plano de treino nesta intervenção didáctica mediatizada?
– Fizeste uma avaliação diagnóstica da situação?
– És apoiado institucionalmente? Por que Federação?
– Quais são as tuas expectativas de sucesso?
– Tens uma abordagem da área em forma globalizada, de modo a permitir o acesso à significação dos contextos, tendo em conta a bipolaridade da transmissão?
– Quais são as tuas estratégias conducentes à combinação dos conhecimentos prévios? E de que modo pretendes conquistar títulos?
– Respondem estes aos interesses e necessidades do grupo, de modo a assegurar a significatividade do processo de ensino-aprendizagem?
– Incluíste actividades integradoras com fundamento epistemológico produtivo? Contaste com as normas, os símbolos e os valores?
– E os espaços alternativos das problemáticas curriculares gerais? Tens ums concepção generalística e sistematizada dos mesmos?
– Propiciaste espaços de encontro para a coordenação de acções transversais e longitudinais que fomentem os vínculos operativos e cooperativos das áreas concomitantes? Tiveste em conta o Yoshi, o Maai e o Yomi?
– Quais são os conteúdos conceptuais e processuais que respondem aos fundamentos lógicos, praxeológicos e metodológicos, constituídos pelos núcleos generativos do Kihon, do Kumite, da Kata e da Bunkai, transdisciplinares, interdisciplinares e metadisciplinares?

Caifás, o pior de todos, disse a Jesus:
– A tua graduação está homologada? Pagaste a taxa de Treinador?
– Quero saber que Curso de Treinador possuis, que acções de formação frequentaste e reservo-me o direito de, no final, graduar os teus discípulos e reembolsar as taxas de exame, para que ao Rei não lhe falhem as previsões de uma selecção nacional de qualidade e não se lhe estraguem as estatísticas do sucesso.
– Serás notificado, em devido tempo, pela via mais adequada. E agora vai ter com Herodes para designar o metodólogo que irá supervisionar as tuas horas de estágio e que te dirá quais as horas de formação que terás de fazer este ano!
– Lembra-te que se não estiveres dentro da lei, haverá mecanismos de fiscalização que tratarão disso….

... E Cristo deixou de ser treinador de Karaté aos trinta e três anos...


(adaptado de um e-mail que circula na net intitulado "A razão de Jesus ter pedido a reforma antecipada aos trinta e três anos..." e dirigido a todos os Professores e Professoras…)

5 comentários:

  1. Muito bem escrito. Revela "saber" não só da matéria (karaté) o que é evidente, mas também o funcionamento e facilidade de escrita, mas neste caso ( e digo apenas o que penso ) não abrange a maior parte ( ou uma parte )das pessoas que estão no Karaté e que não possuem o intelecto académico para absorver integralmente esta forma de escrita. Se bem que muito inteligente, peca (a meu ver) por uma "carga" expressa de conteúdo demasiado técnico o que poderá fazer com que a mensagem não chegue a todas as cabeças (nas quais também me incluo)

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  2. Caro Jorge:

    Obrigado pelo teu comentério.
    O problema é que existem poucas pessoas a saberem muitas coisas e muitas pessoas a saberem poucas.
    Como mudei de endereço (armando.inocentes56@gmail.com) perdi o teu contacto. Por favor envia-me o teu endereço para eu te elucidar um pouco melhor e enviar-te um documento.
    Abraço

    Armando Inocentes

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  3. Meu Caro Armando Inocentes, são de facto exigências pedagógicas e curriculares a mais para os pobres treinadores, muitos deles com a escolaridade mínima obrigatória.
    Mas o paradigma deve também ser visto de outra forma para existir uma certa justiça de análise.
    Quantos treinadores realizam o planeamento anual das suas actividades lúdicas, desportivas, marciais, etc., tendo em consideração os vários factores que influenciam o seu planeamento visando a excelência do seu trabalho, e a propagação (evangelização) do karaté através da conjugação dos métodos científicos actuais e métodos ancestrais da nossa arte marcial.
    E no bairro ao lado tem um treinador que ensina karaté, colocando as crianças a correr, fazer flexões, treinar no wakiwara, etc, etc. Para quem tem interesse em que a modalidade cresça e se dinamize na nossa sociedade sabe que estes mesmos treinadores por vezes obtêm mais sucesso que o pobre que planeia os todos os seus passos, mas esse sucesso é apenas pontual e não longitudinal, acabando por prestar um mau serviço ao karaté.
    Penso ser consensual que é necessário criar condições, para que esses treinadores com menos habilitações obtenham formação, de forma a criar no karaté recursos humanos com qualidade técnico-pedagógica no ensino da sua arte marcial, pois quer queiramos quer não, hoje não podemos dissociar a Arte Marcial da actividade física da qual a sociedade actual tão necessita.
    Na minha humilde opinião necessitamos muito de regulação nesta área, e é necessário que o karaté esteja na linha da frente na formação dos seus recursos humanos, pois o envolvimento desta arte e deste desporto com crianças, coloca-lhe uma responsabilidade acrescida.
    Continue com o seu excelente trabalho neste blogue, pois sou um frequentador assíduo do mesmo, gosto sempre de aprender com quem sabe, muito obrigado.

    J. Filipe Ferreira

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  4. Caro Filipe:

    Obrigado pelo seu apoio. "Eu não sei", procuro é obter informação, veiculá-la e gerar conhecimento. Agora quando vamos a um Fórum (o do dia 10) e «vendem-nos» que todos os treinadores "devem estar em rede" e a informação depois não circula... nem conseguem responder aos mails onde eu coloco questões... «olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço!».

    Abraço

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