Estamos habituados - por uma questão de transmissão reprodutiva - a associar o significado de kumite a combate. Nem etimologicamente kumite significa «combate», nem quando efectuamos kumite estamos a realizar um combate. Literalmente, kumite significa «encontro de mãos», o que para além da distância (maai), do ritmo (hyoshi) e da leitura (yomi) do mesmo, pressupõe uma percepção espaço-temporal, uma tomada de decisão e uma execução sincrónica. Sincronia essa mais evidente no randori (estudo das técnicas com parceiro, captura do caos). Mesmo no shiai kumite (competição) não se desenrola um combate (simbolismo da acção), antes um duelo onde há contacto corporal directo, em que se tenta superar o adversário dentro de regras pré-estabelecidas, com critérios e parâmetros definidos e duplamente aceites.... tácita e normativamente.
Numa primeira etapa, o kumite é constituído por três tempos: o ataque, a defesa e posterior contra-ataque. É o kumite típico dos mais jovens e dos iniciados.
Numa segunda etapa, onde há um maior domínio técnico, coordenação de movimentos e percepção espaço-temporal mais desenvolvida e um maior domínio do objecto - o outro -, encontramos dois tempos: o ataque e a seguir a defesa e o contra-ataque simultâneos.
A terceira etapa pressupõe a adição de uma mais rápida tomada de decisão - execução da resposta, desenrolando-se toda a acção só num tempo: é a sincronia ataque/defesa/contra-ataque.
A evolução que origina uma maior e melhor leitura do kumite transporta-nos a uma quarta etapa onde se verifica a antecipação: o chamado sen-no-sen. Para além de todos os parâmetros anteriores, a velocidade, o timming e a direcção em relação ao foco revelam aqui um papel importantíssimo. A resposta total efectua-se antes de se completar a iniciativa.
Poderemos ainda considerar, embora idealmente, a existência de uma quinta e última etapa: a inexistência do combate. Adversários com capacidades e competências de tal modo semelhantes, com leituras e tomadas de decisão-acção de tal modo iguais que nenhum deles tomaria a iniciativa... Tal é no entanto mais filosófica do que desportiva, pois a mesma originaria a inexistência do vencedor no shiai kumite.
Há que treinar todas estas etapas, passar por estas etapas todas e saber "queimar" cada uma delas até se chegar à excelência. Só assim será possível, pois de contrário estaremos a fabricar "enlatados"...
Apenas para acrescentar:
ResponderEliminar待の先 TAI NO SEN - Lit "esperar o ataque", ou seja, contra-ataque.
先の先 SEN NO SEN - Lit "atacar o ataque, ou seja, ataques simultãneos.
先先の先 SEN SEN NO SEN - Lit. "Antecipar-se ao ataque", ou seja, atacar antes *
(*) Vamos lá entender bem este conceito, porque isso é fundamental!
Todos nós conhecemos a famosa frase:
空手に先手なし。
Karate ni sente nashi.
"Em Karate não há ataque preemptivo."
Ou seja, em Karate não se ataca antes!
Não se toma uma acção ofensiva ANTES de o adversário a iniciar. Quanto a isso, não há a menor discussão possível.
Por outro lado, "Sen sen no sen" implica o inimigo iniciar o ataque e nós sermos mais rápidos e atingí-lo antes que ele nos atinja... antecipando-nos ao seu ataque.
Alguns autores, de forma completamente infeliz, acham que "antecipação" seria "atacar primeiro", mas isso vai contra a máxima acima indicada e quem conhece karate sabe que isso é terminantemente proibido.
(^_^)
押忍!Osu!
----------Nota: adicionar ao meu post anterior se possível. (^_^) -------------------------
ResponderEliminarHá também uma outra classificação destas etapas:
後の先 GO NO SEN - Lit "depois do ataque", ou seja, contra-ataque.
待の先 TAI NO SEN - Lit "esperar o ataque", ou seja, atacar no momento que o adversário começar o seu ataque.
先の先 SEN NO SEN - Lit. "Antecipar-se ao ataque", ou seja, atacar antes *
(^_^)
押忍!Osu!
Referi o Karaté como componente desportiva. Aí não é terminantemente proibido iniciar o ataque...
ResponderEliminarQuanto ao "sen no sen", penso que a foto é elucidativa!
Grande abraço e obrigado.