Ronaldo, «o fenómeno», terminou a sua carreira aos 34 anos... após oito cirurgias, lesões sucessivas e, por fim, hipotiroidismo. E terminou a carreira afirmando “tenho dores até a subir escadas”.
Cassius Clay no boxe, Tracy Austin no ténis, Charles Barkley e Pedro Miguel no basquetebol, Brian Laudrup, Matt Holmes, Roy Keane, Sebastian Deisler, Leandro Machado e Pedro Mantorras no futebol, Carl Lewis, Patrik Sjoberg, Mike Powell e Maurice Greene no atletismo, Jean-Luc Cretien e Mathias Lanzinger no esqui alpino, Cris Pringle no críquete, Karen Forkel e Jan Zelezny no dardo, Mark McGuire no basebol, Cathy Marsal no ciclismo, Kevin Everett no futebol americano – já vai longa a lista, e poderia até nunca mais acabar, daqueles que graças ao desporto são exemplos vivos de morbilidade física, pois graças a ele contrairam lesões vitalícias.
Hoje, na sua crónica semanal em «A Bola», página 40, Sidónio Serpa fala em Ronaldo, «ídolo que é gente», que foi ídolo mas que continua a ser pessoa... A imprensa que antes o glorificara acusou-o depois, com sarcasmo, de forma humilhante e impiedosa, de não ter cuidado com o peso... “Prevalecia o focus na dimensão do rendimento desportivo do jogador que já não cumpria a função, como outrora, de transmitir a imagem da perfeição fenomenal. Essa perfeição na qual se projecta o cidadão comum, incluindo os comentadores (...)”. Na sua despedida, perante centenas de jornalistas, perante todo o mundo, Ronaldo conta, chorando, como os últimos tempos foram dolorosos, com dores até quando pegava na sua filha ao colo, com dores pelo aumento descontrolado do peso devido à doença contraída. “Apesar de ter lutado em silêncio contra o sofrimento, no meio das lágrimas, pede desculpa ao presidente do seu último clube por ter falhado... E os, até então, críticos violentos que riam, faziam piadas e se zangavam, desvirtuando o profissionalismo do atleta, emudecem e choram. Não sei se de arrependimento, se levados por contágio emocional, se já com saudades da perfeição que não pode ser eterna expressão em campo da genialidade de alguns, mas pode sê-lo na memória dos adeptos. Ou se, finalmente, por tomarem consciência de que um ídolo também é gente. Que não obstante se elevar ao olimpo dos deuses por via do maravilhoso que é a expressão do seu desempenho desportivo, é frágil no seu sentir, sofre sem poder revelá-lo, absorve as críticas sem ousar partilhar pensamentos. Mas atleta é para consumo social e político, e pessoa é para morrer só, em casa, se já não se lhe reconhece utilidade”.
Sem dúvida, atleta é para consumo social e político, e pessoa é para morrer só, em casa... Garrincha, Vítor Batista...
Apesar de ter de reconhecer os dotes de Ronaldo, as suas capacidades e a sua técnica, ou seja, a sua arte, confesso que nunca fui grande fã de Ronaldo. Mas confesso também que acabei por passar a sê-lo ao ter de reconhecer a sua extrema humildade... Mea culpa!
Cassius Clay no boxe, Tracy Austin no ténis, Charles Barkley e Pedro Miguel no basquetebol, Brian Laudrup, Matt Holmes, Roy Keane, Sebastian Deisler, Leandro Machado e Pedro Mantorras no futebol, Carl Lewis, Patrik Sjoberg, Mike Powell e Maurice Greene no atletismo, Jean-Luc Cretien e Mathias Lanzinger no esqui alpino, Cris Pringle no críquete, Karen Forkel e Jan Zelezny no dardo, Mark McGuire no basebol, Cathy Marsal no ciclismo, Kevin Everett no futebol americano – já vai longa a lista, e poderia até nunca mais acabar, daqueles que graças ao desporto são exemplos vivos de morbilidade física, pois graças a ele contrairam lesões vitalícias.
Hoje, na sua crónica semanal em «A Bola», página 40, Sidónio Serpa fala em Ronaldo, «ídolo que é gente», que foi ídolo mas que continua a ser pessoa... A imprensa que antes o glorificara acusou-o depois, com sarcasmo, de forma humilhante e impiedosa, de não ter cuidado com o peso... “Prevalecia o focus na dimensão do rendimento desportivo do jogador que já não cumpria a função, como outrora, de transmitir a imagem da perfeição fenomenal. Essa perfeição na qual se projecta o cidadão comum, incluindo os comentadores (...)”. Na sua despedida, perante centenas de jornalistas, perante todo o mundo, Ronaldo conta, chorando, como os últimos tempos foram dolorosos, com dores até quando pegava na sua filha ao colo, com dores pelo aumento descontrolado do peso devido à doença contraída. “Apesar de ter lutado em silêncio contra o sofrimento, no meio das lágrimas, pede desculpa ao presidente do seu último clube por ter falhado... E os, até então, críticos violentos que riam, faziam piadas e se zangavam, desvirtuando o profissionalismo do atleta, emudecem e choram. Não sei se de arrependimento, se levados por contágio emocional, se já com saudades da perfeição que não pode ser eterna expressão em campo da genialidade de alguns, mas pode sê-lo na memória dos adeptos. Ou se, finalmente, por tomarem consciência de que um ídolo também é gente. Que não obstante se elevar ao olimpo dos deuses por via do maravilhoso que é a expressão do seu desempenho desportivo, é frágil no seu sentir, sofre sem poder revelá-lo, absorve as críticas sem ousar partilhar pensamentos. Mas atleta é para consumo social e político, e pessoa é para morrer só, em casa, se já não se lhe reconhece utilidade”.
Sem dúvida, atleta é para consumo social e político, e pessoa é para morrer só, em casa... Garrincha, Vítor Batista...
Apesar de ter de reconhecer os dotes de Ronaldo, as suas capacidades e a sua técnica, ou seja, a sua arte, confesso que nunca fui grande fã de Ronaldo. Mas confesso também que acabei por passar a sê-lo ao ter de reconhecer a sua extrema humildade... Mea culpa!
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