domingo, 20 de fevereiro de 2011

O que há de comum entre Sidónio Serpa e Albertina Dias?


A primeira resposta à pergunta do título acima é que ambos dispensam apresentações.

O Prof. Dr. Sidónio Serpa é Doutorado em Ciências do Desporto com uma tese em Psicologia do Desporto, exerce funções docentes à largos anos na Faculdade de Motricidade Humana onde é responsável pelo Gabinete de Psicologia do Desporto, sendo também Presidente da International Society of Sport Psychology. Esteve nos Jogos Olímpicos de Atlanta e Sydney integrado no grupo de técnicos e especialistas da equipa olímpica de Vela.

Na sua crónica semanal em «A Bola» do passado dia 15, na página 31, sob o título «E depois?», o Prof. Sidónio Serpa dizia que "no príncipio era o gozo. O gozo da actividade física, do convívio com os companheiros do desporto, dos desafios colocados às habilidades, do sentir-se mais forte e resistente... Depois vieram treinos mais a sério, as competições, o sentir-se desportista como os seus ídolos." Mais adiante "eram as expectativas da família, treinadores e dirigentes, os olhares e comentários do público, as notícias dos jornais que só se interessavam pelas vitórias e criticavam sem verdadeiramente entender, o que chamavam insucessos. E havia o dinheiro que os bons resultados proporcionavam, mais os subsídios e vencimentos, mais os patrocinadores... Depois, a vida já estava dependente disso. A pressão começava a ser muito forte." E continua descrevendo a vida de um desportista de alta competição, que passa pelos Jogos Olímpicos, para quem a vida era o desporto! "Não havia algo mais... Sem se dar conta, foram os objectivos desportivos a curto e médio prazo que lhe foram determinando a vida. (...) Tinha sido levado a não se envolver noutros projectos. Nem estudos, nem profissão, nem afectivos... Agora, ao olhar para si e para a sua vida, só encontra um tremendo vazio."

E termina com o seguinte parágrafo: "os treinadores e os dirigentes, antes tão próximos e interessados, começam a não estar presentes. A imprensa e o público começam a esquecer ou a criticar, mais do que elogiar. A família continua lá, mas também perdida no meio de tudo. Afinal não entendem bem o que se passa, nem que deveriam ter ajudado a criar outros objectivos de vida. Finalmente, todas as seguranças, toda a formatação, todas as estruturas que apoiam um atleta de alta competição começam a esfumar-se. A vida tem de continuar. Mas para onde? E como?"

Apresenta-nos assim o Prof. Sidónio Serpa um produto descartável... que só tem interesse para o Estado enquanto serve, enquanto dá louros aos País... e ao Estado...

Mas regressemos ao título deste post, pois como poderemos verificar na edição do «Correio da Manhã» de hoje, na página 41, o título «Campeã põe ouro à venda» salta à vista!...

A notícia é sobre Albertina Dias...

Em 1990, no Campeonato do Mundo de Corta-Mato, individualmente, obteve a sua primeira medalha em competições internacionais. Em 1992, em Boston, conquistou uma medalha de bronze e, no ano seguinte, no Campeonato do Mundo de Corta-Mato de Amarobieta, alcançou finalmente a medalha de ouro. É esta medalha de ouro que a atleta colocou à venda, sendo a base de licitação 70 mil euros... E quais os motivos?

Transcrevendo agora, "contactada pelo Correio da Manhã, a ex-fundista não escondeu as dificuldades financeiras que atravessa. "Não posso pagar as quotas da Associação de Atletas, por isso não recebo nenhuma ajuda", explicou Albertina Dias, que está entre os cem desportistas do século em Portugal. A antiga recordista nacional, que agora trabalha como empregada de limpeza – recebe 15 euros por hora – tem-se desdobrado em contactos com a Federação Portuguesa de Atletismo, que se comprometeu a apoiá-la, mas acusa o organismo de ser pouco célere nas suas acções. "Há um projecto, juntamente com o Instituto do Desporto de Portugal e a Universidade do Porto, mas que ainda não começou. Já estou farta de promessas. Para mim, é como São Tomé: ver para crer (...)".

Pela Selecção Nacional Albertina Dias conquistou a medalha de prata nos Campeonatos do Mundo de Estrada em 1986, em Lisboa, a medalha de ouro em 1987, em Monte Carlo, a medalha de bronze em 1988, em Adelaide e a medalha de prata em 1989, no Rio de Janeiro. Nos Campeonatos do Mundo de Corta-Mato conquistou a medalha de bronze em 1990, em Aix-Les Bains, e duas medalhas de ouro no campeonato de Budapeste em 1994 e no de Ferrara em 1998, respectivamente.
Esteve também presente nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988, nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 e nos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996. Esteve presente em vários campeonatos do mundo (de Pista, de Pista Coberta, de Corta-Mato, de Estrada, de Meia Maratona), em Campeonatos Ibéricos e Iberico-Americanos, em Campeonatos da Europa de Corta-Mato e em cinco Taças da Europa.
Em Portugal, Albertina Dias foi campeã nacional de 3 mil metros em 1986, 1989 e 1991, tendo sido recordista nesta distância entre 1991 e 1994. Foi campeã dos 10 mil metros em 1993 e de corta-mato em 1995 e 1996. Além disso, foi recordista nacional dos 5 mil metros entre 1993 e 1995 e, em pista coberta, na distância de 3 mil metros deteve também o primeiro lugar do ranking nacional de 1991 a 1994.


Bendito o Estado que trata assim os seus maiores valores... mas já Camões assim foi tratado!!!

Estamos agora em condições de responder à questão colocada no título do post: nada há de comum entre estas duas pessoas do nosso Desporto, a não ser o facto de que, como homem da Psicologia que é, o Prof. Sidónio Serpa antecipou-se cinco dias sobre algo que iria vir a lume sobre Albertina Dias.

De comum, há dias e Dias...



Nota: um comentário online a esta notícia do C. M. às 13h.59m afirma que "ela foi ao Você na tv..chegou a este ponto pk o marido/treinador faleceu há 9 anos e tem dividas a pagar k n consegue suportar...os campeões dakela epoca n recebiam cm recebem os d hj...". Outro comentário, desta vez às 14h.19m refere que "A notícia fala em 15 euros quando devia dizer 5 euros."

(fotos: http://www.idesporto.pt/conteudo.aspx?id=61 e Jorge Amaral / http://www.cmjornal.xl.pt/pesquisa/albertina%20dias)

3 comentários:

  1. Pois é, se Albertina andasse aos pontapés na bola até teria direito a estátua junto ao campo de futebol ou seria uma embaixadora de um desses clubes que gerem milhões.
    E até já teria teria sido fotografada a ser beijada, como heroína, pelo secretário de Estado do Futebol, perdão, do Desporto.
    Mas como o seu 'futebol' é outro, é simplesmente ignorada.

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  2. O que é de facto triste é ver atletas destes, com craveira, a terem de mostrar a sua "vergonha encoberta", quando já não há mais nada a fazer!Infelizmente, é como tudo na vida... "uns têm, outros..., não!".

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  3. Este é o nosso verdadeiro país. Vale a pena representar as cores nacionais para mais tarde ser assim recompensado?... Não, é como diz Sidónio Serpa, quando já não há resultados deixa de haver visibilidade e deixa de haver rentabilidade financeira para alguns que rodeiam o atlteta. Vão fazer alguma "Maratona de beneficiência" para ajudar a Albertina?
    Os que dedicaram uma vida ao karaté qual a compensação final que lhes é dada?
    Porque é que alguns campeonatos de karaté são organizados sempre pelas mesmas pessoas, sempre nos mesmos locais e com "montes" de paineis e placards à sua volta? São organizados pela Federação? Não! A Federação delega... Reembolsa a Federação uns dinheiritos? Não sei, mas a organização decerto que embolsa os patrocínios das câmaras e dos patrocinadores...
    Um assunto a pensar e a debater!

    Grato, um abraço
    JA Neves

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