terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Do "Desejado" à implosão...


Saudosismo é continuar à espera do «Desejado»... Preocuparmo-nos em comparar o passado com o presente para que não se cometam os mesmos erros no futuro é fazer história, mesmo que muitas vezes sintamos que ficamos bradando no deserto...

Como diria Camões na sua poesia lírica, em mil quinhentos e qualquer coisa:

Já me desenganei que de queixar-me
Não se alcança remédio; mas quem pena
Forçado lhe é gritar, se a dor é grande.
Gritarei; mas é débil e pequena
A voz pera poder desabafar-me,
Por que nem com gritar a dor se abrande.


Parecer é uma coisa, ser é outra! Como se costuma dizer, à mulher de César não basta parecê-lo, há que sê-lo! Há os que se sentem assim...

... mas há coisas que parecem e não o são... e faço minhas as palavras de António Aleixo (1899-1949):

Gosto do preto no branco,
Como costumam dizer:
Antes perder por ser franco
Que ganhar por não ser. 

Por outro lado há outros que parecem assim... e se sentem assim...

... e que para além de sê-lo parecem-no e que para além de parecê-lo são-no, tal como a mulher de César!

O problema está em distinguir os que parecem e são dos que parecem e não são... Quando exprimimos as nossas posições publicamente estamos sujeitos à crítica, ao confronto, à ameaça, ao afastamento, à ostracização, principalmente se somos discordantes do poder instituído. 
Não sou saudosista, nem por uma questão de idade nem de sonhos. Quando começamos a colocar recordações no lugar dos sonhos aí sim, já nem saudosistas somos. Somos derrotados, vivemos agarrados ao passado e nem sequer vivemos. O passado ninguém o pode modificar, mas podemos servir-nos dele para avançarmos para uma coisa que se chama progresso na evolução... para algo que se chama conhecimento, via transcendente para a sabedoria... 
Ser saudosista é discutir muito sobre a forma como o Karaté deve ser em vez de tentarmos compreender como ele de facto existe, para nos podermos servir disso para o servirmos a ele. Quando exprimimos as nossas posições publicamente, quando as fundamentamos, estamos a servir o Karaté e não a servirmo-nos dele.

Volto de novo a António Aleixo (hoje estou para aqui virado!):

Queremos ver sempre à distância
O que não está descoberto,
Sem ligarmos importância
Ao que está à vista e perto.

Porque será que nós temos
Na frente, aos montes, aos molhos,
Tantas coisas que não vemos
Nem mesmo perto dos olhos?

Em democracia prevalece a vontade da maioria. Mas respeitando a vontade das minorias.

A maioria detém a legitimidade do poder que lhe é concedido através dos actos eleitorais e das votações.

Mas democracias alicerçadas em minorias (veja-se o "extraordinário" número de delegados na última AG da FNK-P) caminham para a implosão...

O poder regulamentar em qualquer federação desportiva titular do estatuto de utilidade pública desportiva, é atualmente exercido, primariamente, pela Direcção.

A Direcção da Federação é, na substância, o órgão regulamentar por excelência. Que façam os regulamentos... nem precisam de ir à AG! Até porque, com Assembleias-Gerais destas, acabou-se a democracia... Tanto interessa ter 2 praticantes inscritos como 200...

アルマンド   イノセンテス

5 comentários:

  1. Hélio Ramos - Praia da Vitória14 de dezembro de 2011 às 01:03

    Sensei Armando!
    Há ainda mais uma quadra de António Aleixo que se aplica a este seu artigo, que é a seguinte:
    Sei que pareço um ladrão...
    mas há muitos que eu conheço
    que, sem parecer o que são,
    são aquilo que eu pareço.

    Um abraço.
    HRamos

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  2. De facto só interessa ter inscritos os que fazem competição ou os que vão fazer cursos de treinadores ou de árbitros...

    Os Senhores da Federação não viram que este modelo é menos representativo e mais autocrático? Com o aumento dos seguros (também os temos nos dojos!) e com a continuação dos 500€ provisórios-definitivos vamos inscrever menos gente...

    De 160000 vamos passar para quantos?

    Se as associações não podem estar na Assembleia Geral como vão ser auscultadas? NÃO VÃO!
    A DIRECÇÃO VAI PÔR E DISPOR - OU TALVEZ SEJA O PRESIDENTE A PÔR E DISPOR - aguardemos até os outros Directores abrirem os olhos -e aí sim, vai ser implosão e explosão! A não ser que estejam todos a mamar do mesmo tacho!

    Grande Abraço
    Pedro Correia

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  3. Caro Pedro:

    Por toda a razão que possas ter, não são 160 000. As últimas estatísticas do IDP publicadas diziam 16 000...

    Obrigado e um abraço de Feliz Natal!

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  4. Caro Hélio:

    Obrigado pelo comentário.

    Também tinha em mente essa quadra de António Aleixo, mas como já há tantos "ladrões" em Portugal não quis chamar ladrão a mais ninguém...

    Um abração e Feliz Natal!

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  5. Winston Churchill dizia que “quanto mais para trás se olhar, mais para a frente se poderá ver”... enquanto o nosso Vergílio Ferreira era mais apologista de que a esperança é a última a morrer:

    “Tenho esperança. É o que me vem sustentando: a esperança de que amanhã é que é.”

    E se o amanhã não chegar?

    Vamos continuar à espera de D. Sebastião?

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