sábado, 3 de março de 2012

Pobres dos nossos ricos


Esta semana o Presidente da República afirmou que "há um conjunto a que nós chamamos aqui, hoje, os novos pobres (...)".

O termo não é novo. Recordamo-nos que já em 2008 o jurista Pedro Lomba nos afirmava no Diário de Notícias (aqui) que  "os «novos» pobres são mais propensos a casos de criminalidade do que no passado". E no mesmo artigo o autor revela que "percebemos que o núcleo do problema não é económico mas cultural. Depende das políticas de desenvolvimento humano que podem levar grupos de pobres especialmente vulneráveis a interiorizar valores de educação, aprendizagem social e preparação do futuro."

Mas na semana em que se falou dos "novos pobres" queremos trazer aqui um texto sobre os ricos, da autoria de Mia Couto e datado de 14.09.2011, que transcrevemos com a devida referência de «Liberal Online».

"A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza.
(...)
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos". Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lança-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (....)".

Este texto exemplar poderá ser lido na íntegra aqui .

Já dizia Eça de Queiroz: "Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente. E pela mesma razão." Quase que nos atreveríamos a acrescentar que os ricos também...


5 comentários:

  1. Sensei Armando:

    Os novos pobres deviam ser mudados, os políticos deviam ser mudados, os ricos deviam ser mudados, as fraldas deviam ser mudadas (tudo frequentemente), mas de nada servirá se as moscas continuarem a ser as mesmas.

    Um abraço.
    Pedro Correia

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  2. Michael Marmot no «Público», hoje, 04.03.2012, p. 32:

    "Por cada 1% na subida da taxa de desemprego, os suicídios crescem 0,8%."

    "Se se for pobre e burro fica-se burro, se se for burro e rico recupera-se. É a prova de que os genes não definem o destino e que a envolvência social é determinante e que o social potencia o biológico."

    Uma entrevista onde este especialista em determinantes sociais da saúde e do impacto da pobreza na mortalidade afirma que "o empobrecimento pode provocar milhares de mortes prematuras em países como Portugal e Grécia" pode ser lida em http://apontamentos.blogspot.com/2012/02/michael-marmot-entrevista.html.

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  3. Caro Armando:

    Portugal não é um país em crise. Portugal é um país onde há muito dinheiro, está é mal distribuído. Quantas comissões para estudo disto e daquilo, quantos estudos disto e daquilo, tudo a ser pago por nós? Quantas viagens, quantos almoços, quantos alojamentos, tudo a ser pago por nós?

    Ficámos sem subsídio de férias e 13º mês, mas para os trabalhadores da TAP há uma exceção... Eles trabalham mais do que nós? Não, é por estar a ser privatizada, é por estar numa zona de concorrência...

    Quando os pobres começarem a pensar com a barriga, i. e., quando começarem todos a roubar para sobreviver, o que vai ser deste país?

    Um abraço.

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  4. Caro Dr. Armando:

    Sobre este post transcrevo o diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault:

    Colbert: - Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço...

    Mazarino: - Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado... é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!

    Colbert: - Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criámos todos os impostos imagináveis?

    Mazarino: - Criando outros.

    Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

    Mazarino: - Sim, é impossível.

    Colbert: - E sobre os ricos?

    Mazarino: - Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

    Colbert: - Então como faremos?

    Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer, e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

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  5. Caro Armando:

    Na sequência do meu comentário anterior, agora temos a exceção para a Caixa Geral de Depósitos...

    Deixo-te aqui o que foi dito há precisamente 210 anos (coincidência? premonição?), numa altura em que não havia computadores, estatísticas, sondagens, análises de mercado, agências de rating...

    Thomas Jefferson, em 1802 afirmou:

    "Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo Americano alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que os seus pais conquistaram."

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